A Essencial Importância do Vácuo (Desidratação) em Sistemas de Refrigeração: Entenda o Porquê
Uma dúvida persistente entre muitos profissionais da área de HVAC-R reside na importância crucial e no funcionamento do processo de vácuo, também conhecido como desidratação. Realizar o vácuo – a remoção do ar e, principalmente, da umidade do interior do sistema – é uma etapa obrigatória e fundamental antes de qualquer carga de fluido refrigerante, seja em uma instalação nova ou durante uma manutenção. A negligência deste procedimento pode levar a sérios problemas, comprometendo a eficiência, a vida útil e a segurança do sistema.
Desvendando o Funcionamento do Vácuo: A Relação Pressão-Temperatura
Para compreender o vácuo, é essencial entender a intrínseca relação entre pressão e temperatura. Um exemplo clássico é o ponto de ebulição da água: 100°C ao nível do mar (pressão atmosférica de 1 atm ou 760 mmHg). Se tentarmos ferver água em uma altitude elevada, como em São Paulo, ela evaporará a uma temperatura mais baixa, aproximadamente 97°C, devido à menor pressão atmosférica (cerca de 0,92 atm ou 700 mmHg). Essa simples observação nos ensina que quanto menor a pressão, menor o ponto de ebulição de qualquer líquido, incluindo a água presente como umidade nos sistemas de refrigeração.
Com essa compreensão, podemos entender o papel crucial da bomba de vácuo. Este equipamento tem a capacidade de reduzir drasticamente a pressão dentro do sistema de refrigeração. Ao diminuir a pressão a níveis muito abaixo da atmosférica, o ponto de ebulição da água presente no sistema é rebaixado a temperaturas negativas. Nessa condição, a água se transforma em vapor, que é então aspirado pela bomba de vácuo e retido no óleo do seu interior.
O Papel Crítico do Óleo da Bomba de Vácuo:
O óleo da bomba de vácuo possui uma característica fundamental: é higroscópico, ou seja, tem a capacidade de absorver umidade. A umidade retirada do sistema é, portanto, aprisionada no óleo da bomba. Este ponto é de suma importância, pois se o óleo se saturar de umidade, ele perde sua propriedade higroscópica, e a bomba de vácuo se torna ineficaz. Por essa razão, a troca regular do óleo da bomba a cada 20 horas de uso é uma prática indispensável para garantir a eficiência do processo de vácuo.
Entendendo a Escala Microns:
O vácuo pode ser medido em diversas unidades de pressão, como mmHg, Pascal (Pa), atmosfera (atm) e PSI. No entanto, a unidade mais comum e precisa na área de refrigeração é o Micron (µm), que representa a milésima parte de um milímetro (1/1000 mm) de mercúrio (Hg). Portanto, quando lemos um vácuo de 500 microns, estamos nos referindo a uma pressão de apenas 0,5 mmHg – uma pressão significativamente inferior à atmosférica, onde a água evapora a temperaturas abaixo de 0° Celsius.
A Importância da Quebra de Vácuo:
Uma técnica importante para garantir a remoção completa da umidade é a "quebra de vácuo". Este procedimento consiste em introduzir nitrogênio seco no sistema após um período inicial de vácuo. A explicação para essa prática reside no fato de que, devido à rápida queda de pressão, a umidade residual no sistema pode se cristalizar, dificultando sua completa remoção pela bomba de vácuo. O nitrogênio pressuriza o sistema, permitindo que essa umidade cristalizada se vaporize e seja, então, expelida. Após a quebra de vácuo, o sistema é novamente submetido ao processo de vácuo para garantir a desidratação completa.
Utilize Equipamentos de Medição Adequados:
Para garantir um vácuo eficiente e seguro, é imprescindível utilizar equipamentos de medição corretos. O instrumento específico para medir o nível de vácuo é o vacuômetro eletrônico, facilmente encontrado em lojas especializadas em ar condicionado e refrigeração. É crucial entender que o vácuo nunca deve ser determinado por tempo, mas sim pela leitura precisa do vacuômetro, até que o valor especificado pelo fabricante do equipamento seja atingido e mantido por um período determinado, indicando a ausência de vazamentos e a completa desidratação do sistema.
Conclusão:
A realização de um vácuo adequado é um passo inegociável para garantir a longevidade, a eficiência energética, o desempenho ideal e a segurança dos sistemas de refrigeração. Compreender o princípio por trás do vácuo e utilizar as ferramentas corretas são marcas de um profissional qualificado e garantem a satisfação do cliente e a confiabilidade das instalações
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PALAVRAS CHAVE: Vácuo, Pressão, Ar Condicionado, Microns, Bomba de Vácuo
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REFERÊNCIAS:
MESQUITA, Nuno. Resumo da Teoria da Refrigeração. Dissertação. Faculdade de Engenharia da Universidade de Porto. Portugal: 2009.
MATOS, Rudmar Serafim. Refrigeração. Curso de Refrigeração e Climatização. Universidade Federal do Paraná. Paraná: 2016.
GERNER, Valter Rubens. Apostila de Termodinamica. Curso Técnico de Refrigeração e Condicionador de ar, Escola SENAI Oscar Rodrigues Alves. 1997.
André Quelian Bezdiguian
Sócio Proprietário da empresa KLIMAN HVACR
Especialista em Refrigeração, Ventilação e Ar Condicionado.
CREA 5070265738